Como saber se tenho vocação?
- Se hoje eu me alegrar com aquilo que dá sentido à minha fé, então tenho vocação.
- Se me alegrar com a oração solitária, com a oração comunitária e com a solidariedade que deve brotar dessa oração, então tenho vocação.
- Se me alegrar com a reunião de pessoas, sobretudo se puder exercer entre elas um verdadeiro serviço, então tenho vocação.
- Se me alegrar com o anúncio da Palavra de Deus, que liberta o ser humano da escravidão do pecado e das escravidões deste mundo, então tenho vocação.
- Se me alegrar com a palavra que me converte e chama a todos à conversão, então tenho vocação.
- Se me alegrar com a caridade de doar minha vida para ser partilhada com todos e se partilho a vida, livre dos sonhos que não correspondem ao chamado de Deus, então tenho vocação.
- Se me alegrar com aquilo que me chama e se faz meu alimento na Eucaristia, pão repartido, vida repartida e esperança de vida, então tenho vocação.
Enfim, se penso na vocação, então tenho vocação!
Como posso saber a vontade de Deus para mim?
Deus escreve e imprime a sua vontade, o seu chamamento, nos nossos corações. Vontade de Deus, para mim, é aquilo que eu, no fundo, quero; à luz do Espírito Santo; depois de tirados os obstáculos.
Faço primeiro umas observações para situar bem, e depois a explicação desta frase:
- Não se trata aqui da vontade de Deus em geral. Esta é que todos os homens se salvem, que o Reino cresça, que Jesus Cristo seja conhecido e amado.
- Não se trata também da vontade de Deus que eu me realize segundo o Evangelho, que seja fiel a mim próprio, aos meus talentos e a Deus que me chama. Trata-se é de ver como sei qual é o meu chamamento específico, a minha vocação, a resposta evangélica que devo dar a cada solicitação.
- Também não se pode entender vontade de Deus como algo estático, pré-determinado, que eu, com sorte, vou descobrir. Trata-se, sim, de uma história de amizade que se vai concretizando e ganhando contornos e purificando ao longo da caminhada.
Vejamos então, pelo lado positivo, a tal definição:
- Aquilo que eu, no fundo, quero...: É o que eu quero e não o que me agrada. É, pois, preciso libertar o nosso querer que está dominado nas ambições, nos medos, nas paixões etc.
- À
luz do Espírito Santo: porque o querer move-se sempre sob alguma luz,
algo que o atrai. Trata-se, pois, de se deixar mover pelo Espírito de
Deus e não por outros espíritos.
- Depois de tirar os obstáculos: obstáculos à ação do Espírito, que vêm de fora: a mentalidade dominante, as pressões sociais, as mais variadas tentações... e vêm de dentro: os medos, os preconceitos, o comodismo, o egocentrismo e todas as defesas perante o que pode parecer exigente ou vai por em causa o que parece mais fácil e mais feliz. Então a vontade de Deus para mim é que eu colabore com Ele para viver evangelicamente cada momento da minha vida, e a própria orientação a dar à vida. Isto é a vocação: decidir-se por aquilo que Deus mostra como bom para mim no fundo do meu coração.
E como é que eu sei qual é a minha vocação? Como é que encontro a resposta, a opção certa?
Em primeiro lugar, a pessoa sinceramente desejosa de encontrar a sua vocação, deve por-se numa atitude de disponibilidade, isto é, de abertura ou de indiferença interior para aderir ao que for melhor (ao que vem de Deus), sabendo, contudo, que está sempre a defender-se e a por, mesmo inconscientemente, obstáculos àquilo que pode parecer mais exigente e pedir algumas aberturas ou deixar outras coisas boas, como é o caso da vocação consagrada. Mas, mesmo sabendo isso, a pessoa tratará de pedir a graça de andar aberta e disponível para os sinais de Deus, tendo ouvidos para ouvir. Esta é a atitude prévia. Enquanto não nos decidirmos a admitir que Deus pode chamar e não nos dispusermos a ouvir (pois talverz andamos com outras ocupações, medos e prioridades), e com isso, nada acontece! E uma vez nessa atitude, o encontrar da vocação se pode dar de três maneiras. Vamos vê-las:
Primeira
Observar
um momento em que Deus se manifesta como que diretamente, irrompendo na
vida da pessoa. É o seguinte: numa determinada ocasião, numa dada
situação de vida, do trabalho ou da oração, experimentar uma tal luz,
uma convicção interior tal, que não posso duvidar, ainda que à
superfície hesite ou tenha medo.
Segunda
Por mais que queira, as coisas não desempatam para lado nenhum, embora haja boa vontade. Nestes casos, é preciso se perguntar:
a) Quais as minhas razões e motivações profundas para desejá-la?
b) Quais os contras?
Por fim, meditar.
Terceiro
Aquele
que pretende encontrar a vontade de Deus, depois de se pôr minimamente
disponível interiormente para aderir ao que for melhor, começa por
enfrentar a vocação à que se sente chamado na sua oração, na missa e na
vida quotidiana etc., imaginando, vendo-se como estaria, agiria,
sentiria atendendo a este chamado.
No final, provavelmente, já entenderá, por dentro, qual é a sua própria vocação. Às vezes não se chega logo a essa conclusão assinalada pela paz profunda, que é diferente de bem-estar e até pode, como já se disse, ser acompanhada de alguma apreensão. Nesse caso tem que se repetir o processo. E aí, como em todo o processo, a ajuda de um diretor espiritual experimentado é particularmente importante.
E procurando encontrar aí a pista certa, numa abertura franca com o diretor espiritual, recomeçar aquilo que pareça necessário. O Senhor não deixará de se manifestar na hora certa, que é a sua hora, a hora da graça. E a nós, resta cultivar a paciência humilde e a perseverança confiante, bem como o despojamento atento, para que, desejando apenas a sua vontade, o encontro de amigos e de libertação e o encontro da nossa missão no mundo para bem do mundo, que é a vocação, aconteça.
Que sinais Deus me oferece?
Vamos dar uma resposta. É evidente a necessidade do discernimento. Discernir é perceber, analisar os fatos da vida, as moções que sentimos, para distinguir o que é bom ou mau, verdadeiro ou falso, e poder tomar uma decisão movidos pela razão e pelo entendimento, e não pela paixão e emoção.
É claro que todos nós sabemos discernir espontaneamente, uma multidão de coisas. Um exemplo? Vemos ao longe fumaça e logo dizemos: ?Algo está queimando lá?. Não vemos o fogo, mas o adivinhamos pela fumaça que percebemos. Outro exemplo? O dia está carregado por densas e escuras nuvens; começa a ventar fortemente. Então corremos para tirar a roupa do varal e dizemos: ?Vem chuva grossa!? Dito e feito, logo mai a chuva cai.
Fácil, não é? Pelos sinais que vemos, podemos chegar à causa que os origina. Assim acontece também com o discernimento. Eis alguns sinais exteriores que sempre costumam estar presentes em todos os vocacionados:
1.
Sensibilidade diante das necessidades e sofrimentos dos outros. Isto
leva a defender a ajudar o empobrecido, o marginalizado, o necessitado,
colocando a própria vida a serviço daqueles que mais precisam. Amar
quem o mundo não ama: os pobres. Querer o que o mundo não quer: justiça.
Viver como os grandes e poderosos não vivem: com disponibilidade de
serviço. Ser forte e corajoso sem perder a ternura jamais.
2.
Liderança para criar comunidade. Líder é aquele que comanda e orienta
todo tipo de ação ou ideal em benefício dos outros. É fundamental saber
trabalhar com os outros. O líder anima, apoia, organiza, partilha
tarefas, responsabilidades e até a própria vida. O líder verdadeiro
nunca procura seus próprios interesses, mas aquilo que é importante à
comunidade.
3.
Criatividade nos relacionamentos interpessoais, na vida, no apostolado.
Quem ama inventa mil formas de se aproximar do amado. Aparecem os
frutos do Espírito: caridade, alegria, paz, paciência, gentileza,
bondade, fidelidade, autodomínio... para enriquecer a própria vida e a
vida dos outros. Sem os frutos do Espírito não existe criatividade, e
sem esta a vida, a pregação e a própria celebração litúrgica ficam
monótonas e sem graça. Só assim testemunharemos a favor de um mundo
novo, diferente do que testemunharemos a favor de um mundo novo,
diferente do que temos e em que vivemos.
4. Idealismo:
desejar ir além do presente e do que se vê. Carregar dentro do próprio
peito esperanças duradouras capazes de transformar realidades
mesquinhas. Ter convicções profundas, sonhar com dias melhores, crer que
o que somos e fazemos é semente de novos céus e de nova terra. Ter
vontade de anunciar os valores do Evangelho, a verdade e a paz, e
proclamá-los com alegria e esperança a todos.
5. Buscar
com empenhos, descobrir e encontrar o sentido profundo da vida, do
trabalho e do amor. Todos querem ser felizes, mas muitos procuram a
felicidade onde ela não se encontra. A felicidade, como todas as outras
coisas, deve ser feita, construída artesanalmente. Quando alguém se
questiona sobre o que para que os outros sejam um pouco mais felizes,
descobriu a fonte da felicidade e já experimentou, dentro de si, um
chamado especial.
6. Firmeza
nas convicções e nas decisões. Saber dizer sim e também saber dizer não
quando for necessário, seguindo os valores do Evangelho de Jesus.
Dependendo dos ?sins? e dos ?nãos? que dizemos, vamos fazendo caminho,
vamos por uma estrada ou outra e vemos como certas portas se fecham e
outras se abrem. É importante saber compreender sem perder o rumo da
caminhada, saber amar sem, por isso, ter de parar.
7. Espiritualidade.
Este sinal é fundamental. Sem ele, todos os outros ficam de escanteio e
não são significativos numa vocação de especial consagração: padre,
irmão ou irmã. Ter uma experiência pessoal de Deus, que nos ama. Sentir o
Senhor Jesus vivo e ressuscitado, conhecê-lo, amá-lo, segui-lo e
servi-lo com todo o nosso coração, com toda a nossa vida. Experimentar o
poder do Espírito Santo que nos perdoa, levanta, santifica e envia. Ter
a certeza de que somos homens novos que caminham, carregando nas suas
pobres e pequenas mãos o poder de libertar e transformar as pessoas e
estruturas, percebendo como Deus, em quem acreditamos e depositamos toda
a nossa confiança, abre seus caminhos diante de nós. Enfim, carregando a
própria sombra, caminhar felizes para o Sol.
O que me é necessário?
Equilíbrio emocional
-Capacidade de expressar emoções de forma construtiva;
-Capacidade de enfrentar problemas e conflitos sem fuga;
-Capacidade
de manter um padrão de comportamento relativamente uniforme, sem
reações imprevisíveis, e não deixar o juízo ser dominado pela emoção;
-Capacidade de refletir e não só sentir;
-Capacidade de aceitar-se.
Equilíbrio afetivo e sexual
- Aceitação normal da própria identidade sexual;
- Interesse normal por pessoas de outro sexo;
- Aceitação do celibato como expressão de entrega total.
Maturidade social
- Não depender das opiniões dos outros e das modas do momento;
- Esforço para ser sincero e autêntico;
- Relações sociais estáveis, sem dificuldades frequentes;
- Interesse pela cooperação e atividade em grupo.
Maturidade intelectual e moral
- Um grau suficiente de inteligência (proporcional à tarefa que o chamado é chamado a desempenhar ? mestre no Povo de Deus);
- Não basta ser inteligente, precisa também saber dedicar-se ao estudo para frutificar os talentos recebidos;
- Desejo de perceber o sentido das ações (não fazer por fazer);
- Poucos interesses, mas estáveis;
- Consciência crítica, não ingênua;
- Conduta dependente de princípios morais e de um ideal;
- Conduta baseada sobre a consciência pessoal da responsabilidade e do dever.
Além disso,
- Um mínimo de saúde física;
- Capacidade de viver em comunidade: receber e contribuir;
- Dotes espirituais: Sentido de Deus (valor supremo e dominante da vida: Deus);
- Inclinação à oração e espírito sobrenatural;
- Espírito de sacrifício (capacidade de renúncia - contra mentalidade burguesa, de conforto atual);
- Sentido de Igreja e espírito de obediência;
- Zelo apostólico.
Quem pode me ajudar?
Todo o homem é um vocacionado, e a vocação cristã não é algo lateral, de uns poucos, mas a personalização cristã de todos e de cada um. Só que ninguém faz esse processo sozinho. Em primeiro lugar, quem deve me ajudar é um padre, de preferência o confessor e diretor espiritual. Além dele, os bons e verdadeiros amigos e as pessoas de fé.